1.4.05
DONA EUGÊNIA
Eu me hospedei no apartamento da Dona Eugênia, ex-colega de escola de minha avó, quando estive no Rio de Janeiro, há uns 20 anos.
Católica fervorosa e muito mais velha que eu, Dona Eugênia era tão amável que chegava a ser constrangedor.
Me lembro que tive de me esforçar bastante até achar um assunto de seu interesse para conversarmos.
-Foste ver o Papa, Dona Eugênia?
-Fui, meu filho. A maior emoção da minha vida!
-É mesmo?
-Acordei às seis da manhã e já peguei o ônibus para o Aterro do Flamengo.
O papamóvel iria passar ao meio-dia, mas eu queria um lugar para enxergar o Santo Padre de perto.
Levei as fotos dos meus filhos e netos para serem abençoadas...
E passei a manhã inteira de pé, sem ir ao banheiro e sem comer, no meio da multidão que aumentava cada vez mais.
-Bah, Dona Eugênia, que força de vontade...
-Mas valeu a pena, à uma e meia, o povo começou a cantar: "A benção, João de Deus, nosso povo te saúda,..."
Era o Papa que estava chegando.
A exitação foi tamanha que me prensaram contra o alambrado e até mesmo as freiras começaram a gritar de emoção...
-Que loucura.
-Demais, demais...tanto que, quando eu acordei, o papamóvel já estava longe.
-A senhora desmaiou?
-Desmaiei.
Fui atendida pela ambulância da prefeitura...uns moços muito prestativos.
Uma pena eu não visto ter de perto...mas eu vi o Papa depois, pela televisão.
Que carisma desse homem!
De vocês dois, Dona Eugênia, de vocês dois...